A doença de Parkinson (DP) é a segunda doença neurodegenerativa mais comum após a doença de Alzheimer. O termo “neurodegenerativa” nos aponta que se trata de uma doença progressiva devida a perda de neurônios. Existem vários tipos de neurônios, que se comunicam entre si através de diferentes tipos de neurotransmissores, como dopamina, serotonina, noradrenalina, acetilcolina, etc. Na DP, os neurônios que mais se degeneram são os que contém dopamina, embora outras populações neuronais também sejam afetadas.
O que causa da DP?
A causa da doença ainda é desconhecida, mas existe uma característica comum nos cérebros de pessoas com DP, que é o acúmulo de uma proteína chamada alfasinucleína. Até hoje, não se sabe se o acúmulo desta proteína seria causa ou consequência da doença. Apenas cerca de 10% dos pacientes com DP possuem uma mutação genética conhecida. Nestes casos, não é incomum haver mais de uma pessoa acometida na família e a idade de início dos sintomas costuma ser mais precoce. No restante dos casos, acredita-se que possa até haver uma predisposição genética, mas seria necessário também a exposição a algum fator desencadeante do meio ambiente.
Fatores de risco e proteção associados à DP:
São conhecidos alguns fatores de risco para o desenvolvimento da DP, entre eles estão: exposição a agrotóxicos, consumo de água de poço, traumatismo craniano grave e dieta rica em laticínios. Por outro lado, também são conhecidos alguns fatores protetores contra o desenvolvimento desta doença como consumo de café, chimarrão e chás, especialmente o chá preto, e atividade física moderada a intensa.
Como é feito o diagnóstico da DP?
A idade de início dos sintomas é por volta dos 60 anos, mas há casos em que a doença se manifesta bem mais cedo, antes dos 40 anos de idade. O diagnóstico é essencialmente clínico, ou seja, feito através da história que o paciente conta e do exame físico que o médico faz. Não existem exames complementares capazes de dar este diagnóstico. Contudo, os exames de sangue e ressonância de encéfalo ajudam a afastar outras possibilidades e, quando o médico julgar necessário, pode solicitar exame que demonstre a perda da dopamina.
O primeiro passo para o diagnóstico de DP é o paciente apresentar parkinsonismo. Este é caracterizado por lentificação dos movimentos associada a rigidez muscular e/ou tremor de repouso. Existem muitas causas de parkinsonismo, mas a mais comum é a própria DP. Outras causas de parkinsonismo são alguns medicamentos, acidentes vasculares cerebrais (AVCs), parkinsonismos atípicos, entre outros. Portanto, para o diagnóstico é importante que o médico neurologista seja familiar e tenha um treinamento específico em identificar doenças que fazem o diagnóstico diferencial com a DP. Geralmente, os médicos mais indicados para isso são os neurologistas especialistas em distúrbios do movimento.
Os primeiros sintomas motores apenas aparecem quando já houve uma perda de, pelo menos, 60% dos neurônios dopaminérgicos. Anos antes, quando esta perda se inicia, podem aparecer sintomas não-motores, que – isoladamente – não são suficientes para dar o diagnóstico de DP. Estes sintomas podem ser: intestino preso, depressão, diminuição do olfato e alterações do sono. Após o diagnóstico, com o aparecimento dos sintomas motores, esses sintomas não-motores podem permanecer e até ficarem mais importantes ou mesmo aparecer pela primeira vez em alguns pacientes. Junto com eles, outros sintomas não-motores que podem surgir são: incontinência urinária, disfunção erétil, quedas da pressão arterial, ansiedade, dor, perda de memória e alucinações.
Do ponto de vista motor, observa-se ainda a alteração da letra – que fica menor – dificuldade de andar, de articular as palavras, de engolir, a postura fica mais curvada, a face vai perdendo a expressão e o equilíbrio fica mais comprometido. É importante dizer que nem todos os pacientes irão necessariamente apresentar todos os sintomas aqui descritos. Cada paciente apresenta a doença de maneira individual e com tempo de evolução único, o que depende de uma série de fatores, sendo um deles, o grau de aderência ao tratamento.
E o tratamento?
Apesar de a medicina estar avançando muito rápido, até o momento, não temos nenhum tratamento capaz de curar, ou mesmo retardar a evolução da DP. Contudo, é de extrema importância todos adotarmos hábitos de vida saudável, em especial as pessoas portadores de doenças neurodegenerativas, a fim de ter uma boa reserva cerebral e corporal para enfrentar as dificuldades que possam surgir com o processo de envelhecimento. O tratamento da DP deve envolver vários profissionais de saúde além do médico, pois as medicações compõem apenas um dos pilares do tratamento. Elas são usadas tanto para tratar os sintomas motores, como os não-motores. É importante lembrar que, como qualquer remédio, pode haver a presença de efeitos colaterais como náusea, sonolência, confusão mental, inchaço nas pernas, etc. e é fundamental que isso seja observado e relatado em consulta.
A principal medicação que compõe o arsenal terapêutico da DP é a Levodopa, que deve sempre ser ingerida longe das refeições, especialmente daquelas que contenham proteínas de origem animal (carnes, leites, ovos e derivados) para que possa ser melhor absorvida. Inicialmente, o médico prescreve esta medicação para ser tomada três vezes ao dia, mas, com o passar do tempo e evolução da doença, a quantidade de tomadas por dia tende a aumentar. É importante que o paciente e familiar saibam analizar qualquer sintoma que apareça em relação a hora que o paciente tomou a Levodopa: se quando o sintoma apareceu o paciente estava sob efeito da medicações (em “ON“) ou o sintoma apareceu quando o efeito havia passado (em “OFF“). Essas observações ajudam muito a otimizar o tratamento. Eventualmente, por consequência do tratamento, também podem ocorrer movimentos anormais, que lembram um dança, chamados de discinesias. Estas, apesar de frequentes, não ocorrem em todos os pacientes.
Cerca de 10 a 15% dos pacientes, em algum momento da doença, podem ter a indicação médica de serem submetidos à cirurgia de estimulação cerebral profunda, conhecida por DBS (Deep Brain Stimulation). Esta cirurgia consiste no implante de dois eletrodos, um em cada lado do cérebro, em estruturas afetadas pela doença e, através de uma bateria implantada subcutaneamente na região torácica (igual a de um marcapasso) pulsos elétricos são gerados e alteram o funcionamento do cérebro, reduzindo os sintomas da doença. Essa indicação cirúrgica não ocorre antes de 4 anos do início dos sintomas para que se tenha certeza de que se trata de DP e não de outra causa de parkinsonismo. A cirurgia também não é feita em estágios muito avançados da doença, quando a memória pode já estar ruim e o paciente possa já ter muita alteração de equilíbrio.
As principais indicações deste procedimento são os tremores que não respondem bem aos medicamentos, a presença de discinesias incapacitantes e se o paciente tiver que ficar tomando Levodopa muito seguidamente de forma que a qualidade de vida seja muito atrapalhada. Além do tratamento medicamentoso e da cirurgia de DBS, outros pilares tão importantes quanto estes são: atividade física regular / fisioterapia, acompanhamento fonoterápico, nutricional e psicológico, entre outros.